Gaudí - Arquitecto da Natureza


Gaudí - Património da Humanidade

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Da cidade encontrou o corpo -
As suas artérias têm tanto de ruas
Como de passo grácil, garoupa, lombada.
Não aprisionou leis, não as subjugou,
Mas criou na pedra, no ferro,
As forças para que elas se exercessem -
As leis da geologia, da biologia, da botânica,
O movimento das fibras, fustes, hastes,
No centro de uma pedra orgânica, elástica, proteica,
Uma pedra que é vide, medusa, cogumelo, chama,
Intumescências que parecem recusar qualquer traça
E cuja revolta é também ela disciplina,
Alheia a bocejos, adiposidades,
Uma vontade que é gerada no perfeito equilíbrio
Entre estática e dinâmica,
Acalanto e diatribe,
Flora e fera.
"Últimos Poemas" - Nuno Rocha Morais
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"Este homem faz o que quer com a pedra, com um controle fantástico das estruturas. Entre os homens da sua geração, é o que têm maior força arquitectónica."
Le Corbusier

Introdução

CP - Cidadania e Profissionalidade

NG4 - Identidade e Alteridade

DR4 - Identidade e Patrimónios Culturais
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"Não se deve fazer monumentos aos artistas porque eles já o fizeram com as suas obras..."
Antoní Gaudi

Neste DR4 - Identidade e Patrimónios Culturais, o meu trabalho vai focar o património deixado por Antoni Gaudí, arquitecto catalão, símbolo da cidade de Barcelona.

As suas obras foram classificadas pela Unesco como Património da Humanidade.

Ao longo do trabalho, vou tentar evidenciar o impacto da obra de Gaudí na humanidade.


No vídeo abaixo, pode maravilhar-se com a obra de Gaudí.

video retirado do youtube

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Unesco - Património da Humanidade


Classificação das obras de Gaudi como Património Mundial pela Unesco:

Sete edifícios construídos pelo arquitecto Antoni Gaudí (1852-1926), em Barcelona e nas proximidades, foram inscritos na lista do património mundial, em 1984 e 2005. Estas obras atestam a contribuição excepcional de Gaudí para o desenvolvimento da arquitectura e da técnica de construção, do final do século XIX e no início do século XX. Estes monumentos são a expressão de um estilo eclético e, sobretudo, muito pessoal, que o seu autor deu rédea solta, não apenas na arquitectura, mas também na arquitectura paisagística, através da criação de jardins, na escultura e em muitas outras artes decorativas. Os sete edificios são: Casa Vincens, Palácio Guell, Cripta da Colónia de Guell, Parque Guell, Casa Batlló, Casa Milá, Fachada da Natividade e Cripta da Sagrada Família.

Justificação da sua inscrição:

(Critério I) A obra de Antoni Gaudí representa uma contribuição criativa e excelente para o desenvolvimento da arquitetura e da técnica de construção, no final do século XIX e início do século XX.

(Critério II) A obra de Gaudí exibe um intercâmbio importante de valores que estão intimamente associados com as correntes artísticas e culturais do seu tempo, como vimos representados no Modernismo da Catalunha. Antecipou e influenciou muitas das formas e técnicas que foram relevantes para o desenvolvimento da construção moderna, no século XX.

(Critério IV) O Trabalho de Gaudí representa uma série de exemplos significativos da tipologia residencial e pública, na arquitectura do início do século XX, tendo dado uma contribuição significativa e criativa para o seu desenvolvimento.

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Gaudí

Antoni Gaudí i Cornet

Arquitecto catalão, cuja obra constitui uma marca na cidade de Barcelona, é considerado um dos grandes mestres do século XX.

Nasceu em Reus, Catalunha, Espanha, em 25 de Junho de 1852; morreu em Barcelona, em 10 de Junho de 1926.
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De origens humildes, era filho de um artesão que trabalhava o ferro. Mostrou, desde cedo, interesse pela arquitectura, tendo ido estudar, em 1869, para Barcelona, então o centro político e intelectual da Catalunha. Só acabou o curso oito anos mais tarde, tendo os estudos sido interrompidos pelo serviço militar e por outras actividades intermitentes.

Ignorado durante os anos 20 e 30 do séc. XX, quando o estilo internacional era o estilo arquitectónico dominante, foi redescoberto nos anos 60, sendo reverenciado tanto por profissionais como pelo público em geral, devido à sua imaginação transbordante. A avaliação do trabalho arquitectónico de Gaudí é notável pela sua escala de forma, texturas, e multiplicidade de cores, e pela maneira livre e expressiva como estes elementos da sua arte se conjugam.

Gaudí é conhecido pelo uso do arco parabólico centenário, uma das formas mais comuns da natureza. Nos últimos anos de vida, Gaudí dedicou-se exclusivamente à religião católica e à construção da Sagrada Família, que não chegou a concluir.

Tragicamente, a 7 de Junho de 1926, depois de ter saído da obra "Sagrada Família", Gaudí foi atropelado pelo eléctrico nº30, que cruzava a Gran Vía com a Calle Bailén, ficando em estado grave. Não tendo sido reconhecido pelos presentes, foi transportado para o hospital dos pobres, onde morreu três dias depois. Os seus restos mortais foram sepultados na cripta da "Sagrada Família".

Não é preciso ser arquitecto para apreciar a obra de Gaudí, nem é preciso andar de guia na mão para entender a complexidade da sua obra.

A Unesco classificou as suas obras como Património da Humanidade, e devolveu ao mundo um património único e ímpar na história da arquitectura. A humanidade tem na obra de Gaudí um património singular e inigualável, como veremos ao longo deste trabalho.
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A congregação para a Causa dos Santos, a pedido do Cardeal Carles, arcebispo de Barcelona, autorizou a abertura da causa de beatificação do arquitecto, em Março de 2000. Em 12 de Abril, foi constituído o tribunal. Carles nomeou o actual pároco da Sagrada Família, Luís Bonet, irmão do arquitecto que dirige a continuação das obras do Templo, como postulador da causa.
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"A criação prossegue incessantemente por meio do homem. Mas o homem não cria: descobre. Aqueles que descobrem nas leis da natureza a inspiração para os seus trabalhos colaboram com o Criador. Copiadores não colaboram. Por causa disso, originalidade consiste em retornar à origem."
Antoní Gaudi
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Casa Vicens

Construída entre os anos de 1883 e 1888.

Manuel Vincens i Montaner pediu a Gaudí que construísse uma casa na terra que herdara de sua mãe, em 1877.

Coordenadas GPS - N41 24 19.1 E2 09 06.3
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O terreno situava-se entre o convento das Monjas da Caridade de San Vicent de Paul e um beco sem saída, perpendicular à rua das Carolinas.

A Casa Vicens foi um dos primeiros trabalhos de Gaudí. A estrutura do edifício ainda é dominada por linhas rectas. Os ladrilhos decorativos e torreões fantásticos mostram a ideia que Gaudí não pararia de cultivar.

A Casa Vicens já deixa antever que Gaudí era um arquitecto que aliava a imaginação a um estilo próprio.
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Gaudí criou algo original ao construir esta casa: começou pelo estilo espanhol, tornando-se cada vez mais árabe, ou talvez persa, à medida que ia crescendo em altura, sendo difícil definir com exactidão o seu estilo.

A magnífica decoração da fachada, com pequenas varandas salientes, assim como a configuração das superfícies dos muros exteriores completam uma imagem pouco habitual. A base é formada por pedra natural em tons de ocre, combinada com tijolos vermelhos. Mas o fascínio do exterior da casa reside na larga utilização de azulejos coloridos, uma homenagem a Manuel Vicens e à sua profissão.

Gaudí construiu a casa contra o muro do convento, produzindo um jardim grande e espaçoso. No jardim, projectou um chafariz monumental, em tijolo, constituído por um arco parabólico, sobre o qual havia uma passagem entre as colunas. A água é armazenada em dois reservatórios colocados no topo de cada uma das extremidades dos pilares da fonte. Em 1946, foi demolido, pela venda de parte do terreno.

O jardim foi cercado por um muro e, na entrada, os portões são de ferro forjado, em forma de folhas de palmeira. As folhas pesadas são distribuídas numa grade de perfis "T" em ferro forjado, cujas intersecções são decoradas com uma reprodução do mesmo material. Os gomos da planta Tagetes Erecta, são também representados pela cerâmica que decora a fachada do edifício.

Outro elemento que havia no jardim era uma fonte de tijolo e cerâmica, que estava entre a parede da casa e o muro da rua das Carolinas.
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A Unesco incluía-a como Património da Humanidade, em 2005.
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"O segredo da sedução da arquitectura de Gaudi está em que ele buscou as soluções técnicas das suas construções directamente na natureza. Por isso, Gaudí está sempre na moda, não cansa, continua a ser admirado. A reacção das crianças perante as obras de Gaudí chama a atenção, pois percebem uma natureza que parece estar viva. Sentem-se cativadas. Quem sabe a sua arquitectura está fora do tempo e resiste a ser classificada dentro de uma tendência ou escola concreta, porque não teve como objectivo fazer arte, mas projectar formas funcionais e úteis."
Joan Bossena, director da Real Cátedra Gaudí
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Palácio Guell


Construído entre 1886 e 1890, o Palácio Guell foi desenhado por Antoni Gaudí para Eusebi Guell, seu principal cliente.
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Coordenadas GPS - N41 22 50.5 E2 10 30.6
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Esta foi a primeira grande obra do arquitecto, onde investiu toda a sua originalidade na sua criação, na busca de novas ideias, e uma interpretação totalmente pessoal de estilos históricos.

Eusebio Guell encomendou a Gaudí uma ampliação da residência da família, e acabou por permitir o aparecimento do primeiro edifício moderno a ser distinguido pela UNESCO como Património da Humanidade (1984).

O edifício é centrado num grandioso espaço vertical, coroado por uma grande cúpula parabólica, com janelas em forma de estrela. As outras áreas: salas, corredores, são organizadas em torno desse espaço, que constituí o salão principal.

A luxuosa decoração do interior é um magnífico compêndio do sabor do tempo: colunas de mármore, tectos em madeiras preciosas, o trabalho de elaboração do ferro, incríveis vitrais, pinturas e mobiliário espantoso. No telhado, podemos ver chaminés em várias formas sugestivas, cobertas com pedaços de cerâmica.
O que fica na memória mais imediata deste magnífico palácio é, desde logo, a sua entrada, com vestíbulos duplos, para facilitar a entrada e saída de carruagens, e também as antigas cocheiras e cavalariças. Mas também o terraço, o primeiro em que Gaudí testou algumas das soluções que agora o imortalizam, e que passa por "decorar" as chaminés, que teima em individualizar com revestimentos variados (cerâmicas coloridas, mármore, vidro).

O palácio tem uma cave, quatro andares e um telhado plano. No porão um curral para os cavalos e um quarto para os servos. Para chegar a essa área, Gaudí desenhou duas rampas: uma suave, para os cavalos, e outra, mais íngreme, em forma de espiral, para o pessoal de serviço. A preocupação também se estendeu à ventilação do espaço, levando a arquitecto a dotá-lo com um pequeno pátio interior, e um sistema de ventilação, através de tubos interiores que sobem ao telhado.

O rés-do-chão corresponde ao nível da rua e tem duas grandes portas em ferro forjado, com as iniciais EG (Eusebi Guell) de arcos parabólicos. Entre as portas, é visível o escudo da Catalunha, também ele em ferro forjado.

O palácio Guell situa-se na Cerrer Nou de La Rambla.
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"Perguntaram-me porque fazia colunas inclinadas. Disse-lhes que pela mesma razão que o caminhante cansado, quando pára, se apoia no bastão inclinado, porque em posição vertical não descansaria."
Antoni Gaudí
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Cripta na Colónia Guell

Construída entre os anos de 1898 e 1914. Foi Património da Humanidade, em 2005.

A obra confunde-se com a natureza.

Coordenadas GPS - N41 21 56.4 E2 01 44.1
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Colónia Guell era uma pequena aldeia de trabalhadores, que foi construída em 1882, próximo à fábrica têxtil de Eusebi Guell, situado perto da cidade de Santa Coloma de Cervelló, na região de Baix Llobregat, cerca de 20 km de Barcelona. A colónia ocupava cerca de 30 dos 160 hectares da propriedade, que o pai de Guell tinha adquirido em 1860. As casas dos trabalhadores estendiam-se ao redor da fábrica, construídas pelos assistentes de Gaudí, Francesc Berenguer i Mestres e Joan Rubió i Bellver.

O futuro Conde Guell tinha previsto todo o tipo de serviços para os seus trabalhadores, incluindo uma igreja. Guell encomendou a Gaudí a construção da igreja, criando no arquitecto uma enorme felicidade, pois iria criar um projecto de raiz. Deveria ser uma igreja, mas o projecto fracassou e a igreja nunca foi terminada. Hoje em dia, continua a ser um lugar consagrado para celebrações religiosas.

Em certo sentido, este edifício foi um teste para a construção da obra "Sagrada Família", porque permitiu-lhe experimentar muitas das soluções arquitectónicas que depois utilizou na sua construção. A Cripta é, de facto, uma espécie de experiência para o especialista de estática que era Gaudí, que nela deixou amadurecer os dois elementos básicos das suas construções: o arco parabólico e o pilar inclinado.

Gaudí trabalhou no projecto desde 1898, em estudos de concepção e desenvolvimento de um novo método de cálculo estrutural, baseado num modelo estereostático, construído com cabos e pequenos sacos de chumbo, simulando pesos. A primeira pedra foi lançada em 4 de Outubro de 1908. Foram dez anos de estudos e projectos, para uma obra que permaneceu inacabada após a morte de Eusebi Guell, a 4 de Outubro de 1918, faltando terminar o interior da Cripta e a construção da igreja superior.

A Cripta, no entanto, ficou de tal maneira inacabada, que só através do desenho é possível ter uma vaga ideia de como Gaudí tinha imaginado a sua obra, notando-se semelhanças com a "Sagrada Família".

Hoje em dia, é impossível imaginar como a igreja se iria erguer por cima da Cripta existente, que se encosta à parte superior duma pequena colina, onde crescem pinheiros. O edifício escuro, de cor natural, encosta-se à colina, formando assim uma espécie de segunda colina artificial, parecendo a arquitectura uma duplicação da natureza.
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A Cripta é construída com blocos de pedra basáltica, dando-lhe um aspecto "antigo". As colunas originais Gaudianas estão presentes em todo o edifício, tanto no interior como no exterior. As janelas sobressaem das paredes inclinadas, em forma de clarabóia. A porta principal mostra, na parte superior, uma composição de cerâmica, que representa as quatro virtudes cardeais (justiça, fortaleza, força, temperança).

Este é um edifício totalmente integrado no seu ambiente natural. De longe, as colunas não se distinguem dos pinheiros, e o chão não se distingue da parede.

O pórtico dá a sensação de ser uma extensão da floresta que a rodeia. As onze colunas inclinadas têm texturas diferentes, numa relação com a casca de pinheiro.

Curiosamente, devemos mencionar que a escada para a igreja tem uma pequena fenda, para evitar o corte de um pinheiro que lá cresceu. Esse profundo respeito pela natureza é uma das constantes da arquitectura de Gaudí.

A Cripta e o Parque Guell, realizadas na mesma altura, são as obras de Gaudí mais próximas da natureza: embora ele não tentas-se imitá-la, apenas se serviu de alguns elementos que encontrava nela.
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"Nada é arte se não procede da natureza de onde veêm as mais extraordinárias, maravilhosas e bem concebidas formas... A natureza é obra do Criador e, sem a espiritualidade, a arquitectura não passa de ser uma técnica com retóricas pseudofilosóficas. A arte é recriar com imaginação humana as formas que, desde o princípio do mundo compõem este planeta."
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Antoni Gaudí
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Parque Guell

Construído entre 1900 e 1914, foi inaugurado como parque público em 1922.

Em 1984, a Unesco incluiu o Parque Guell como Património da Humanidade.

"O cimento segue de mãos dadas com a natureza, de forma bela e totalmente harmoniosa."
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Coordenadas - N41 24 59.6 E2 09 07.7
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O parque foi uma encomenda do Conde Eusebi Guell, que propôs a Gaudí a construção de uma cidade-jardim nos arredores de Barcelona. Queria Guell que Gaudí desenvolvesse uma nova urbanização, em que as casas e os espaços públicos homenageassem a natureza, em contraponto com a industrialização que as cidades europeias começavam a sentir.

O objectivo era construir um jardim das delícias catalãs para 60 famílias da alta burguesia. Esta obra confere ao arquitecto a genialidade e excentricidade muito avançada para a época. Gaudí inovou nas estruturas, na complexidade do desenho, das formas fantásticas e na simbologia expressa em cada edifício, escadarias, jardins e nos materiais multicolores.

Guell desistiu da ideia da urbanização, quando esbarrou com o insucesso comercial: não apareciam compradores para os terrenos já loteados. Mas não lhe podemos atribuir o rótulo de fracasso, quando, afinal, a cidade de Barcelona acabou por ganhar um magnífico jardim, e a Humanidade tem ali um importante património. Hoje, o parque é um importante ponto de encontro turístico.

Na realidade, Gaudí pretendia que o parque fosse um paradigma da sociedade orgânica.

Do que ficou do projecto inicial, sobressai a Gran Plaza Circular, uma esplanada com um banco em toda a sua volta, com cerca de 152 metros, coberto por mosaicos coloridos. A praça foi executada por um dos principais colaboradores de Gaudí, Josep Jujol. O contorno serpenteante desta esplanada e sustentada pelo "Teatro Grego": cerca de uma centena de colunas de mármore, intervaladas por aplicações de mosaicos, também eles surpreendentes.
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Este "sofá" público lembra um dragão de cores vistosas, serpenteando ao longo da paisagem e conta-se entre as maiores realizações da história do design.

Do projecto inicial, existem três casas: as duas que ladeiam a entrada principal, construções saídas de um conto de fadas, e a casa no interior do jardim, transformada em Casa Museu de Gaudí, onde o arquitecto residiu de 1906 a 1925.
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O parque situa-se na parte norte da cidade de Barcelona, junto à estrada Correr d'Olot, e ocupa uma área de quase 20 hectares.
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"O Parque Guell, com as suas colunas naturalistas e o seu "Teatro Grego" em que o cimento foi empregado como material nobre, sugere-nos o que disse Gaudí em 1926 - que a sua arte era uma grande lógica. Também nessa época se notou na obra do arquitecto catalão uma influência de Claud. Perante a Igreja da Santa Família, inacabada, e alguns edifícios de Barcelona, e também estes pavilhões e azulejos do Parque Guell, pensamos, com uma certa reserva, se se tratará de lógica na obra de Gaudí, ou se, mais exactamente, não será a exploração da lógica, a procura e desesperação da mesma, mas não o sentimento da lógica. Em Gaudí não há sentimento. É um homem que está à beira duma época petrificada, e que é invadido pelo pânico."
"Embaixada a Calígula" - Agostina Bessa-Luís
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Casa Batlló

Construída entre os anos de 1904 e 1906.

Também conhecida como "A Casa dos Ossos", devido ao formato dos balcões exteriores, que se assemelham a um crânio.
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Coordenadas GPS - N41 22 56.4 E2 01 44.1
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A Casa Batlló deu uma oportunidade a Gaudí para realizar uma das suas mais poéticas e inspiradas composições artísticas.
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A unesco incluíu a Casa Batlló como Património da Humanidade, em 2005.
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Situada na Passeig de Gràcia, 43, a Casa Batlló, juntamente com a Casa Ametller e a Casa Lleó Morera, faz parte da chamada Ilha da Discórdia (Illa de la Discordia), pois, apesar dos três edifícios do quarteirão possuírem grande valor estético e arquitectónico, são todos muito diferentes entre si.

Uma pedra lançada para um lago cheio de nenúfares florescidos, produziria o mesmo efeito que a fachada da Casa Batlló, de onduladas superfícies, cobertas de círculos polícromos, em cerâmica vidrada e fragmentos de cristais partidos de múltiplas cores, cuja colocação exacta, foi dirigida pessoalmente por Gaudí, desde a rua. Esta fachada foi comparada aos óleos de Claude Manet "Les nimphéas" do seu jardim de Giveny.

O sótão duplo que culmina na fachada tem um carácter animalesco e lendário, proporcionando nas pessoas as mais descabidas imaginações sobre o suposto dragão, entendido como parte da luta de São Jorge.

A fachada do piso principal, de arenito esculpido, em forma de ondulações e sustentadas por delgadas colunas, com motivos vegetais, conta, além disso, com a elegância da madeira das janelas e dos vidros de cores vivas, dispostas de forma distorcida.

A alegria que transcende deste projecto tem, também, uma clara expressão, quer na brilhante e colorida fachada, posteriormente renovada e adornada com múltiplas flores em cerâmica picada, que lhe confere um ar ingénuo e alegre, quer nas chaminés do telhado e na harmonia cromática do pátio da luzes, revestido de azulejos de diferentes tons, escurecendo à medida que sobem no edifício.

Aqui figura a plenitude de Gaudí, a visão de um arquitecto num trabalho exultante, de uma obra livre das complicações simbólicas e moralizadoras.

Se, de alguma maneira, havemos de definir a Casa Batlló, podemos dizer que se trata de uma arquitectura alegre, de uma explosão de prazer de quem está no domínio completo do seu próprio estilo pessoal, que lhe permite desligar-se de toda a imitação e de toda a escola contemporânea e histórica.
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"Gaudí observou que muitas estruturas naturais estão compostas de materiais fibrosos, como a madeira, os ossos, os músculos ou os tendões. Do ponto de vista geométrico, as fibras são linhas rectas e as superfícies curvas no espaço compostas de linhas rectas definem uma geometria com base em regras, centrada somente em quatro superfícies distintas: a helicóide, a hiperbolóide, a canóide e a parabolóide hiperbólica. Gaudí viu essas superfícies na natureza e transportou-as para a arquitectura."
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Joan Bassegoda
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Casa Milá

Também conhecida como "La Pedrera", foi construída entre os anos de 1906 e 1910, sendo classificada pela Unesco como Património da Humanidade, em 1984.

Casa Milá, a maior escultura abstracta do mundo.
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Coordenadas GPS - N41 23 51.3 E2 09 46.9
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Situada no nº 92, do Passing de Gràcia, no bairro Eixample de Barcelona, é o maior edifício concebido por Gaudí, e foi encomendado por Pere Milá, por ocasião do seu casamento com Roser Segimon.

Já Gaudí era o arquitecto mais reconhecido e mais caro de Barcelona, quando aceita construir este edifício, abandonando a construção, por divergências com o senhor Milá, dedicando-se exclusivamente ao projecto da Sagrada Família.

As formas curvas e onduladas contínuas da fachada eliminam a ideia de esquina, tornando um edifício sinuoso ao longo da avenida.

A última obra civil do arquitecto chocou tanto a população que chegou a ser vandalizada. Foi, aliás, sem surpresa que, pelo facto de a população achar a construção aberrante, a baptizou, entre outros epítetos menos agradáveis, de La Pedrera.
À primeira vista, destacam-se os balcões trabalhados em ferro forjado, cujo formato imita plantas trepadeiras. Na entrada, destaca-se o arco ciclópeo, enquanto que a parte superior, de forma ondulada, tem esculpido capulhos de rosa com inscrições de Avé Maria.

Para além de belo, tudo é incrivelmente funcional.

No total, o edifício conta com cinco andares, um sótão e um terraço, além de vários pátios internos articulados. Todo ele está realizado em pedra natural, menos a parte superior, que está coberto de azulejos brancos.

O terraço é um dos locais mais surpreendentes do edifício. Além de garantir uma bela vista da maravilhosa Barcelona, o terraço é composto por uma série de chaminés surrealistas.

Com características de modernismo, a Casa Milá está composta de formas orgânicas, induzindo a ideia de natureza: diversos estudos vêem, na Pedrera, os muitos lugares visitados pelo arquitecto durante a sua vida.

Actualmente, parte do edifício está aberto ao público para visitas guiadas, e serve de sala de espectáculos, durante o verão.
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"Os métodos de Gaudí, um século depois, seguem revolucionários."
Sir Norman Foster, arquitecto inglês em 1985
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Fachada da Natividade e Cripta da Sagrada Família

A obra-prima de Gaudí, o expoente máximo da arquitectura modernista Catalã.

"A igreja expiatória da Sagrada Família é feita pelas pessoas, e é o espelho das mesmas. É um trabalho que está nas mãos de Deus e na vontade do povo."
Eusebí Gaudí
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Coordenadas GPS - N41 24 19.8 E2 10 30.2
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O projecto foi iniciado em 1882 e assumido por Gaudí em 1883, quando tinha 31 anos de idade, dedicando-lhe os seus últimos 40 anos de vida, os últimos quinze de forma exclusiva. A construção, que deveria ter sido financiada, principalmente, à base de doações dos habitantes da cidade, foi suspensa em 1936, devido à Guerra Civil Espanhola.

A construção do templo expiatório da Sagrada Família teve início no dia 19 de Março de 1882, um projecto diocesano, do arquitecto Francisco de Paul del Villar (1828-1901). No final de 1883, o projecto foi entregue a Gaudí, que o levou até à sua morte, em 1926. Posteriormente, vários arquitectos têm continuado o trabalho, após a ideia original de Gaudí.

O edifício está localizado na baixa de Barcelona, e, ao longo dos anos, tornou-se um dos símbolos mais universais da identidade da cidade e do país. É visitado anualmente por milhões de pessoas e muitos são também aqueles que estudam o seu conteúdo arquitectónico e religioso.

O Templo foi sempre expiatório, ou seja, desde os seus primórdios, foi construído a partir de doações. A construção continua e pode terminar no primeiro terço do século XXI.

O Templo deverá ter três grandes fachadas: a Fachada da Natividade, quase terminada por Gaudí ainda em vida, a Fachada da Paixão, que foi iniciada em 1952, e a Fachada da Glória, ainda por realizar. O seu risco deve-se ao génio criativo de Gaudí, que aplica os ideais da Arte Nova à arquitectura religiosa. O artista está ligado a uma vertente mais arquitectónica e orgânica da Arte Nova, procurando captar todos os elementos naturais de uma forma muito precisa. Aqui todos os pormenores são imbuídos de simbolismo. A decoração inspira-se em elementos neogóticos (agulhas das torres em forma de espigas de milho, rendilhado nas bandeiras dos vãos), elementos barrocos (as estruturas funcionais passam a ser meramente decorativas) e elementos mouriscos (utilização de cor e do tijolo vidrado). Mas a grande contribuição de Gaudí foi no campo da estática, com a suspensão dos contrafortes através de um hábil sistema de descarga de forças. Assim, o peso da abóbada central (de forma hiperbólica côncava) já não se distribuí sob forma de pressão descendente e lateral, como acontecia na arquitectura gótica. A utilização de superfícies parabólicas e hiperbólicas resulta no escoramento quase vertical das colunas, que, por estarem levemente inclinadas, recebem a restante pressão lateral. Para termos uma ideia da grandeza do projecto da Sagrada Família, basta referir que tem 12 campanários de 100 m de altura cada, 5 cúpulas e um coro de 14 m de altura para 2200 cantores, que podem ser ouvidos no interior e no exterior.

O simbolismo cristão está presente em toda a obra de Gaudí, mas o exemplo mais evidente da sua aplicação é o Templo, que cenograficamente apresenta a vida de Jesus e a história da fé.

Com esse objectivo, o templo foi construído ao longo dos anos como ideia original de Gaudí, que encenou a arquitectura da igreja católica com Jesus e os fiéis, representa da por Maria, os Apóstolos e os Santos. Isto é visível nos dezoito sinos, que simbolizam, Jesus, a Virgem, os quatro Evangelistas e os dezoito Apóstolos, nas três fachadas que representam a vida humana de Jesus (desde o nascimento até à morte), e no interior, sugerindo a Jerusalém celeste, onde uma série de colunas, dedicadas a cidades e continentes cristãos, representam os Apóstolos.

Templo expiatório da Sagrada Família, e contrariamente ao que os arquitectos eram tradicionalmente, Gaudí não usou apenas elementos decorativos para representar a liturgia, mas foi mais longe, e usou-os na sua estrutura arquitectónica. Ou seja, para expressar os símbolos do cristianismo, usou os elementos nos acabamentos da obra.

A sagrada Família pode ser vista como uma "Bíblia" em pedra, devido ao grande número de símbolos católicos que Gaudí queria expressar nas suas fachadas. Eles vão desde Adão e Eva aos Doze Apóstolos, através de todos os episódios da vida de Jesus e todos os símbolos do Antigo Testamento. É um monumento que serve para ler o credo católico.

Mas a importância deste edifício inacabado não é apenas religioso, pode ser considerado o "livro de Gaudí", porque é a explicação mais clara de como construir. Neste trabalho, Gaudí aplica todas as soluções estruturais que foram estudadas e testadas mais de uma vez nas obras que construiu durante a vida. Estas soluções eram, para ele, simples correcções para os erros que tinha cometido nos estilos anteriores. Gaudí tinha aprendido muito, observando a natureza e as suas formas, e simplesmente tentava imitá-la. A estrutura do templo é formada à base de colunas inclinadas, com abundantes ramificações na parte superior, cujos ramos seguram pequenos pedaços da abóbada hipérbole, produzindo o efeito de uma floresta.

Nos últimos quinze anos da sua vida, Gaudí dedicou-se, em exclusivo, à construção do Templo, numa dedicação tal que o levou, inclusive, a montar no estaleiro a sua residência provisória. Foi também perto do Templo que acabou por morrer, em 1926, atropelado, aos 74 anos de idade.

Antoni Gaudí acompanhou as fases iniciais dos trabalhos, mas não chegou a ver erigidas as imponentes fachadas da igreja - as Fachadas da Glória e da Paixão. Só oito dos doze campanários idealizados para as fachadas estão actualmente concluídos. Têm mais de 100 m cada um, e são dedicados aos Apóstolos. Falta ainda construir o zimbório central (de 170 m) em honra de Jesus Cristo, a torre da Virgem Maria e a torre dos quatro Evangelistas.

Com tanta obra por concluir, sobra apenas uma certeza: nada do que já foi construído surgiu do acaso ou não mereceu um tratamento especial. Entrar na nave principal desta catedral, mesmo em obras, é como entrar numa floresta e mergulhar nas entranhas da Natureza.

Em 2005, a Unesco incluiu a Cripta e a Fachada da Natividade como património Mundial da Humanidade.


A Cripta


Foi começada em 1882, segundo o projecto de Francisco del Vilar. Quando Gaudí tomou conta da obra, em 3 de Novembro de 1883, transformou os pilares, acrescentando-lhes capitéis com motivos naturalistas, elevou a abóbada e rodeou a cripta de um fosso para ter iluminação e ventilação directas. Os primeiros planos de Gaudí para a Sagrada Família foram da capela de São José, construída entre 1884 e 1885, data da celebração da primeira missa. As obras da cripta prolongar-se-iam até 1891.

A cripta é composta por sete capelas dedicadas à Sagrada Família: São José, o Sagrado Coração, a Imaculada Conceição, São Joaquim, Santa Ana, São João Batista e a capela de Santa Isabel e São Zacarias. Estão dispostas em forma de rotunda, frente à qual se situam outras cinco capelas em linha recta: a central, que alberga o altar, ladeada pelas capelas de Nossa Senhora do Carmo (onde está enterrado Gaudí), de Jesus Cristo, de Nossa Senhora de Montserrat e do Santo Cristo.

A cripta da Sagrada Família sofreu danos em 21 de Julho de 1936, num incêndio durante a Guerra Civil Espanhola, sendo destruídos numerosos planos, maquetas e documentos deixados por Gaudí. Desde 1930, a cripta é utilizada como igreja paroquial, até à finalização do Templo.




A Fachada da Natividade


Dedicada ao nascimento de Jesus, esta fachada apresenta uma decoração exultante, onde todos os elementos são evocadores da vida. Centra-se na faceta mais humana e familiar de Jesus, com uma ampla abundância populares, como ferramentas e animais domésticos. Está dividida em três pórticos, dedicados às virtudes teológicas: da Esperança à esquerda, da Fé à direita, e a da Caridade ao centro, com a porta de Jesus e terminada pela árvore da Vida, A fachada culmina com as torres campanário, dedicadas a São Matias, São Judas, São Simão e São Barnabé. Foi construída entre 1894 e 1930. A escultura é de Carles Mani, Llorenç Matamala e Joan Matamala.

Os pórticos estão separados por duas grandes colunas: a de José, entre o pórtico da Esperança e o da Caridade, e a de Maria, entre o pórtico da Caridade e o da Fé. Na base das colunas, está representada uma tartaruga (uma de terra e uma de mar), como símbolo do inalterável do tempo. Os fustes erguem-se em espiral, enquanto os capitéis são em forma de folhas de palmeira, das quais surgem cachos de tâmaras cobertas de neve (pelo Inverno, data de nascimento de Jesus), que dão apoio a dois anjos com trompetes que anunciam o Nascimento de Jesus. Em contraste com as tartarugas, de ambos os lados da fachada, situam-se camaleões, símbolos da mudança.

Gaudí, escolheu esta fachada por ser, em sua opinião, a que poderia ser mais atractiva para o público, fomentando assim a continuação da obra após a sua morte.

"Se em vez de fazer esta fachada decorada, ornamentada, turgente, começasse pela da Paixão, dura, pelada, como feita de ossos, as pessoas ter-se-iam retraído."
Antoni Gaudí
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"Gaudí queria que a sua obra fosse continuada por outros, de acordo com o que ele imaginava e penso que o seu desejo deve ser respeitado."
Jordi Bonet, actual arquitecto da Sagrada Família
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Conclusão

Elaborar um trabalho sobre Gaudí foi a experiência mais rica que tive ao longo deste ano e meio que levo de curso.

Entrar no mundo de Gaudí é descobrir as formas da natureza reproduzidas em cada edifício. É encontrar um estilo único, que se distingue entre tudo o resto. Gaudí foi um construtor de sonhos. Um arquitecto que possuía um método de trabalho incomum para a sua época.

Ao escolher Gaudí para o DR4 - Identidade e Patrimónios Culturais, assumi uma enorme responsabilidade, pois sabia, que traduzir as suas obras para o papel, seria extramamente díficil. Penso que, ao longo do trabalho, fui ao encontro do que me tinha sido proposto, e penso que o resultado final reflete todo o meu empenho neste projecto.

A vasta informação disponível sobre todo o mundo que rodeia Gaudí e as suas obras, foi a parte mais difícil deste trabalho, pois quis ser o mais rigoroso possível na selecção dessa informação, o que não foi nada fácil, pois, como com todos os génios, a informação é contraditória. Mas penso que consegui.

A publicação destre trabalho no blog, foi para mim, um desafio; ao mesmo tempo, fico orgulhoso por possibilitar que os outros conheçam a genialidade e a originialidade de Gaudí. É a minha pequenissíma homenagam a Antoni Gaudí.
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